terça-feira, 29 de maio de 2012

Parto Normal após Cesárea - VBAC

Semana passada acompanhei uma consulta na qual o médico falava dos riscos do parto normal após cesárea e fiquei impressionada como foram passadas informações parciais e ficou claro que o objetivo era colocar medo na gestante em relação ao risco de ruptura uterina. Sabe-se que esse risco existe, como existe risco em cesárea eletiva, em exames invasivos, em analgesia, enfim...
As evidências científicas deixam claro que é sim, possível e SEGURO, parir de forma natural mesmo havendo cesárea anterior. É claro que alguns critérios precisam ser observados, como em outras gestações.
Deixo abaixo um relato belíssimo do nascimento de gêmeos, parto natural, após cesárea.
A mãe, Viviane, é uma amiga querida que conheci quando fazia  o curso de preparação para o parto de cócoras e admiro muito sua determinação e força.
Boa leitura!

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Relato de parto

July 26th, 2010 § 18 comments § permalink
Emoção em dobro
O nascimento de Manuela numa cesárea indesejada deixou profundas marcas em Viviane Coentro, superadas três anos depois no parto dos gêmeos Mariana e Levi.
Não existem histórias melhores que as da vida real. A de Viviane Coentro, fonoaudióloga de Campinas e mãe de Manuela, de 3 anos, e dos gêmeos Mariana e Levi, de 8 meses, é tão bonita que parece obra de ficção. Com seu talento de contadora de histórias,
ela teceu com delicadeza os fios da trama do nascimento de seus três filhos. E encantou a plateia formada por mulheres grávidas e seus maridos que participaram de uma reunião de gestantes na Casa Moara em março de 2010.
A mais velha nasceu de cesárea. Os gêmeos, de parto natural hospitalar, acompanhado por uma dupla de parteiras. Nos dias de hoje, um parto normal de gêmeos, sem anestesia e com a assistência de obstetrizes já é algo muito raro. Com um histórico de cesárea anterior, então, é algo praticamente inexistente. Mas não impossível, como mostrou Viviane. Nas palavras dela, dar a luz Mariana e Levi de forma natural foi “um desafio que me permitiu curar antigas feridas”. No linguajar mais técnico, um VBAC (sigla em inglês para “parto normal depois de cesárea”), sonho de cada vez mais mulheres no Brasil.
Leia o relato de Viviane, que contou com o importante apoio do marido Rafael nos partos.
Setembro de 2006
O nascimento de Manuela
“Não estou sentindo mais nada. Pararam as contrações?”, perguntei ao Rafa, deitada na mesa cirúrgica. “Não, as contrações continuam, mas você não vai mais sentir”, respondeu o médico. Saber que eu não iria mais sentir nada foi um dos momentos mais tristes da minha vida.
Não ia sentir e não ia ver também. Os médicos subiram o campo cirúrgico e eu apenas ouvi, na narração do meu marido, minha primeira filha sendo nascida. “Como ela é, como ela é?”, perguntei. “É linda, cabeluda e nasceu de olho aberto”, descreveu Rafa. Pedi para me desamarrarem, queria tocá-la. “Não precisa limpar, traz minha filha para mim”, pedi para a pediatra. Consegui encostar meu rosto no dela. Tentamos colocá-la para mamar. Impossível: eu estava cheia de eletrodos.
Manuela nasceu às 13h18, depois de 18 horas de trabalho de parto, com dilatação total, numa cesárea que hoje vejo como desnecessária: embora os bebês com a cabeça defletida demorem mais para nascer, o parto normal é possível. Mas é preciso esperar. O que não aconteceu no nosso caso.
Chorei nos três dias em que fiquei internada. No terceiro, me mandaram para a psicóloga porque as enfermeiras não davam mais conta de mim. Quando fui para casa, tomava banho e não conseguia olhar o corte, passar a mão nele. Um mês depois escrevi um relato de parto que começava assim: “Graças a Deus existe algo tão agressivo como a cesárea, mas que salvou a vida do meu bebê”.
Naquela época eu realmente acreditava que havia precisado daquela cesárea. Que naquela posição ela não iria conseguir nascer. As pessoas ao meu redor se espantavam: “Nossa, 18 horas de trabalho de parto! Por que não fizeram uma cesárea logo?” E aquilo me doía ainda mais.
Comecei então a ler muito, a ir atrás das coisas. Conheci um grupo de apoio de Campinas, o Samaúma. Eu nem estava grávida ainda, mas já frequentava as reuniões de gestantes para conversar, me informar e tentar me preparar para o próximo parto.
Novembro de 2009
A chegada de Mariana e Levi
Em 2008, engravidei de novo. Por indicação de uma amiga, procurei a parteira, pois queria um parto domiciliar. Com oito semanas, perdi o bebê. Foi um momento muito triste. Três meses depois estava grávida de novo. Com o resultado na mão, liguei outra vez para ela: estava decidida a ter um parto em casa.
No primeiro ultrassom, o médico nos disse sem rodeios: “São gêmeos”. Eu quase tive um ataque, não conseguia parar de rir. O Rafa, com nossa filha mais velha no colo, entrou mudo e saiu calado. Fazia um mês que tínhamos trocado de carro e a única coisa que ele conseguiu falar foi que nossos filhos não caberiam mais no carro…
Liguei para a parteira. Ela confirmou que nessas condições – gravidez de gêmeos e cesárea prévia – o parto domiciliar não era mais possível. Por isso, precisávamos de um médico para acompanhar as parteiras no hospital. O que se revelou um grande problema. Num primeiro momento, não achamos nenhum profissional em Campinas. Os obstetras humanizados que consultei em São Paulo também não podiam se comprometer a viajar para atender meu parto por causa das pacientes com data provável próxima à minha. E eu não queria me deslocar por medo de ficar presa no trânsito.
A indefinição quanto ao médico que nos acompanharia durou alguns meses. Um dia tive um ataque de choro. “Não quero mais saber, não aguento mais.” Eu sabia que estava bem assessorada, tinha muita confiança nas parteiras, mas nenhum dos médicos com quem tinha me consultado podia me garantir que estaria presente na hora do parto. “E se não conseguirem chegar?”, eu pensava.
Como tempo, conquistamos o apoio de uma jovem obstetra, que embora venha acompanhando muitos partos humanizados em Campinas, naquela época tinha pouca experiência em partos de gêmeos.
No início de novembro, uma amiga minha, Joana, teve um parto domiciliar depois de duas cesáreas. Foi uma conquista para ela. E algo que me emocionou demais. Chorei tanto que tive de chamar minha doula para conversar sobre alguns medos. “Não tenho medo da dor, nem de ficar três dias em trabalho de parto, nem do bebê sentar”, eu disse. “Tenho medo de ir para uma cesárea, de não conseguir de novo”, desabafei. Conversamos muito, me acalmei e segui em frente.
No finalzinho da gestação, tinha engordado 23 quilos e minha barriga parecia um transatlântico. Dois dias antes do nascimento, quis mandar um e-mail e não consegui anexar o arquivo. Fiquei nervosa: eu não cabia mais na cadeira e não conseguia fazer mais nada com aquela barriga. Comecei a dizer que estava presa em meu corpo, que queria que os bebês nascessem. A hidroginástica era o único lugar onde eu ficava bem. Dois meses antes havíamos montado também uma piscina em casa para eu ficar dentro dela porque já não aguentava mais o meu peso.
Na noite seguinte fomos ao grupo Samaúma. “Não tem graça, não aguento mais ficar grávida, quero que eles nasçam logo”, desabafei. Chegamos em casa e ainda assistimos a um vídeo de parto. Naquela madrugada, acordei para fazer xixi e notei que meu pijama estava molhado. Depois de um tempo, comecei a sentir contrações.
Era o dia da apresentação de final de ano da Manuela na escola. E também o aniversário da minha mãe. Sentei na cama da minha filha, que dormia, e disse a ela que não veria a apresentação porque os bebês tinham escolhido nascer naquele dia. Não sabíamos ainda o sexo, só que eram bivitelinos.
Ligamos para a médica, que chegou rapidinho. Ela fez o exame de toque e falou: “Oito centímetros. Vamos para o hospital”. Em meio às contrações, que vinham de quatro em quatro minutos, abri o armário e comecei a tirar algumas roupas. “O que você está fazendo?”, perguntou a obstetra. “Minha mala”, respondi. “Não dá tempo!”
Eu não tinha feito a bendita mala de propósito porque todo mundo fala que gêmeos nascem antes. Na gestação tive de escutar coisas difíceis como: “Você está preparada para ficar dois meses na UTI?” ou “Ah, uma conhecida minha teve gêmeos, mas eles não sobreviveram”. Todo mundo conta desgraças para grávida. Quando são gêmeos, isso vem em dobro.
Peguei então só duas roupinhas que tínhamos comprado para ser as primeiras dos dois. Fui para o hospital de quatro no banco de trás do carro e o bandido do Rafa, dirigindo e tirando fotos… Pouco tempo depois, toda a equipe estava reunida no hospital. O parto foi rápido. A Mariana nasceu primeiro, às 8h30 da manhã, chorou e veio para o meu colo. Depois de 28 minutos, nasceu o Levi, meio molinho. Por isso, foi examinado pela pediatra da equipe por alguns instantes, mas logo ouvi o seu choro no bercinho. Depois disso, veio rapidamente para o meu colo. E ficou tudo bem. Foram quatro horas de trabalho de parto ativo.
Durante o parto, a última imagem que me veio à cabeça foi a da minha avó: 58 anos atrás era ela que estava dando à luz minha mãe… E eu só estava ali dando à luz meus filhos porque minha avó havia feito isso antes, nesse mesmo dia. Para mim essa é a imagem mais louca do meu parto.
O que sei é que tinha um vulcão dentro de mim. Depois que eles nasceram, eu explodi. Não lembro exatamente o que disse, mas vai passar a eternidade e eu vou continuar grata às mulheres que me ajudaram a vencer esse desafio. Elas não imaginam a intensidade da cura que realizaram dentro de mim. Por exigência do chefe da pediatria do hospital, outra pediatra ficou de plantão dentro do quarto, além da neonatologista da equipe humanizada. Ela também ficou tocada. Foi muita emoção.
Cinco dias depois, me ligaram da maternidade. Queriam confirmar o peso dos bebês, pois não acreditavam que Mariana e Levi tinham nascido com mais de 3 quilos cada um!

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